Superar os próprios limites e alcançar níveis mais profundos de autoconhecimento é uma jornada desafiadora. Não se trata de um processo automático ou linear, mas de um caminho que demanda intencionalidade e coragem. Encarar os aspectos mais difíceis da própria personalidade, assumir responsabilidades e cultivar virtudes são passos fundamentais nesse processo.

A psicoterapia pode ser uma aliada poderosa nesse percurso, oferecendo suporte, clareza e ferramentas para o enfrentamento das dores e bloqueios emocionais. Diante de todos esses desafios e reflexões, torna-se evidente que superar a camada 4 não é um processo simples ou imediato, mas sim uma jornada que exige comprometimento, coragem e disposição para encarar verdades muitas vezes desconfortáveis.

O amadurecimento da personalidade não ocorre por meio de atalhos ou fórmulas mágicas, mas sim pelo enfrentamento consciente das próprias limitações, pelo cultivo de virtudes e pela busca incessante do conhecimento e da verdade.

A psicoterapia, quando conduzida com seriedade e responsabilidade, pode ser uma ferramenta poderosa nesse percurso. Ela auxilia o indivíduo a reconhecer suas fragilidades e desenvolver os recursos internos necessários para transcender a imaturidade emocional e intelectual.

No entanto, cabe ao próprio sujeito a decisão de dar o primeiro passo — aceitando o desafio de sair da estagnação e se comprometer com sua própria evolução.

O caminho para camadas superiores da personalidade não é apenas um movimento de libertação pessoal, mas também um ato de responsabilidade para com o mundo. Em uma sociedade que cada vez mais valoriza a superficialidade e o imediatismo, aqueles que escolhem amadurecer tornam-se faróis de lucidez em meio ao caos, inspirando outros a trilharem esse mesmo percurso.

Que essa reflexão sirva como um convite à ação, pois, como bem nos lembra Olavo de Carvalho: "O amadurecimento não acontece por acaso, mas exige esforço, consciência e uma busca ininterrupta pelo sentido mais profundo da existência."

Filósofos como Karl Jaspers lembram que nunca se pode conhecer totalmente uma personalidade: sempre haverá dimensões que escapam à análise. Isso reforça a singularidade de cada ser humano.

A psicoterapia pode ser uma ferramenta poderosa nesse caminho, ajudando a pessoa a reconhecer fragilidades, desenvolver recursos internos e superar padrões de imaturidade. Esse processo não acontece por acaso: exige esforço, disciplina e consciência.

Por fim, amadurecer a personalidade é também um ato ético e social, pois quem busca evoluir se torna referência para outros, contribuindo com mais lucidez e responsabilidade no mundo.

Um funcionário ficou até mais tarde no trabalho para concluir alguma pendência do dia. Resolvido o problema, arruma suas coisas e se prepara para voltar para casa. Quando passava pela sala de trabalho rumo à porta percebeu em cima da mesa de um colega, uma tarefa incompleta. Neste exato momento se dará um processo de decisão que será movido por algum tipo de motivação. A qualidade desta motivação revela em que estágio de amadurecimento a pessoa se encontra.

“Hum, se eu fizer essa tarefa e de algum modo perceberem que fui eu, serei reconhecido publicamente pelo meu chefe… vou fazer!”. Aqui o bem objetivo não é a motivação central, mas sim a validação emocional. O funcionário cumpre a tarefa, de um modo que deixe clara sua autoria, e no outro dia espera sua recompensa. O chefe se aproxima e exclama: “Foi você que resolveu o problema do cliente do colega? Meus parabéns! É disso que eu preciso aqui na empresa, funcionários empenhados, resolvendo problemas dos clientes, até mesmo dos que não sejam diretamente seus e ainda mais depois do horário de trabalho!”. “O que é isso, chefe, não fiz mais do que a minha obrigação…, poder servir bem é um prazer pra mim!”. Diz o humilde orgulhoso. O chefe reúne os demais funcionários e publicamente louva a ação, supostamente desinteressada do nosso herói. Mas o que aconteceria se a validação não viesse? Revolta. Como já foi dito, a camada da personalidade é indicada pelo que motiva e também pelo que frustra. Caso não fosse elogiado e reconhecido, ficaria profundamente abalado e com o sentimento de ter sido “explorado”. Logo, não repetiria o comportamento virtuoso. Não só isso, provavelmente se revoltaria contra a noção de virtude como um todo: “Não vale a pena! Quem age bem nunca é reconhecido, acaba ficando de trouxa”.

Agora imagine se esse mesmo funcionário estivesse na quinta camada da personalidade. Naquele exato instante em que vê a tarefa que pode ser feita, perguntar-se-ia: “Será que eu consigo resolver isso? Será que sou capaz de suprir essa demanda?”.

A questão aqui é a descoberta dos limites da própria força/habilidade. Independentemente dos elogios do chefe no outro dia — que seriam bem aceitos —, a motivação não dependeria da presença ou ausência deles. O outro existe como comparação de forças, mas sem a necessidade de validação. Logo, nesta situação o funcionário ficaria satisfeito se tentasse fazer e obtivesse êxito, e ficaria frustrado se tentasse e falhasse.

Na sexta camada o elemento chave é a utilidade. Já não há dúvidas quanto à presença ou ausência de força/habilidade, nem mesmo de se são vistos os seus limites. O ponto determinante passa a ser: “O meu serviço impactou a vida do outro numa necessidade real que ele tinha”.

O funcionário bateria o olho naquela tarefa na mesa do colega e pensaria algo como: “Caramba, alguém precisa dessa demanda resolvida o quanto antes. Vou fazer!”. Feito o serviço, no outro dia procuraria o colega e indagaria: “Ontem havia uma demanda aqui na sua mesa e eu resolvi. Deu certo lá pro cliente?”. Há uma curiosidade sincera sobre o resultado da ação. Nosso personagem estaria satisfeito se tivesse conseguido ser útil, de fato, e ficaria frustrado se não obtivesse esse resultado. Perceba que aqui, a subjetividade da “intenção” não é suficiente para satisfazê-lo.

Numa camada ainda melhor, a sétima, há uma síntese entre as motivações de todas as citadas anteriormente. Livre da necessidade de validação emocional, já ciente dos limites de sua habilidade/força, tendo sistematicamente servido aos demais em seu contexto por um tempo considerável, é natural que este comportamento gere nas pessoas do convívio a seguinte impressão: “Eis aí alguém com quem se pode contar!”. A constância no servir, a retidão de comportamento, os incontestáveis resultados apresentados ao longo do tempo acabam gerando naturalmente um papel social.

A motivação aqui pode ser resumida da seguinte maneira: “Eu faço porque eu sou!”. Aqui não há conflito sobre os papéis que ocupa. “Cuido porque sou pai. Apoio porque sou esposo. Administro conflitos porque sou gerente nesta empresa”. Não há drama quanto às intempéries da posição que ocupa. Aqui a instalação vital de pessoa adulta está satisfatoriamente “encaixada”.